“Eu tô tão feliz que chega a doer”. É com essa frase que
começo este texto.
Há quem diga que somente as tristezas e desilusões que
carregamos no peito chegam a doer. Não penso, muito menos sinto que isso seja
verdade. Eu estou sim com dores de felicidade.
Não consigo explicar o porquê dessas dores que sentimos ao
estarmos felizes. Tenho a leve impressão que são decorrentes da saudade que
fica dos momentos-sorrisos, daqueles breves instantes nos quais o tempo
simplesmente pára e tudo o que passa a existir no mundo são bocas e olhos
iluminados. Mas... É só uma impressão. O sentimento e a dor pertencem a cada
um.
As minhas são do tipo que mencionei acima. E são também
daquele tipo de dor de quem é pressionada contra a grade durante 5 horas de show.
Aperto, suor, postura incorreta, tudo o que parece extremamente desconfortável.
O corpo sofre. Enquanto isso o coração pula, bate, estremece, comemora e se
abre ao som de uma voz que, sabe-se lá como, toca-o há 9 anos. Impossível
narrar como e o que é essa odisseia de emoções.
Tive a honra de estar presente na maior homenagem já feita à
maior cantora do Brasil. Sim, a maior homenagem já feita. Quando digo “a maior”
claramente me refiro ao amor que conduziu aquelas vozes presentes no Credicard
Hall, em São Paulo. O amor dos fãs da mãe e dos fãs da filha; acima de tudo, o
amor da filha. Maria Rita soube o tempo certo para mostrar que suas semelhanças
com Elis não são unicamente genéticas; são morais. O respeito com o público, o
carinho ao falar da mãe que tão cedo partiu deste planeta, o sorriso e a alegria
ao ver que realizou muito bem o dever de levar Elis às novas gerações e de
resgatá-la na memória do público mais velho. Maria tomou para si a tarefa de
ajudar o Brasil a redescobrir Elis. Tarefa que parecia difícil, ainda mais no
chamado “país sem memória”. No entanto, essa tarefa não começou com o primeiro
show do projeto “Viva Elis”, em Porto Alegre. Começou quando Maria Rita surgiu
no cenário musical, premiada com um Grammy antes mesmo de lançar seu primeiro
cd. Muitas pessoas redescobriram Elis ao descobrirem Maria Rita, quando
quiseram saber quem era aquela jovem cantora que surgia com suas singularidades
e semelhanças.
Não podemos dizer que a missão de Maria Rita é levar Elis ao
público mais jovem. Isso é uma missão nossa, de todos nós que valorizamos a
cultura brasileira. A missão de Maria é simplesmente e grandiosamente cantar e
encantar. Missão muito bem cumprida ora cantando Elis, ora cantando Maria. Só
podemos agradecer-lhe por permitir-nos compartilhar um pouco das suas lágrimas,
saudades e lembranças. Por presentear-nos com a homenagem realizada e por nos
deixar tão felizes com algumas notas, letras e sorrisos. Por nos deixar com
aquela dorzinha de felicidade e saudade daquelas quase 4 horas tão breves de
música boa. E, acima de tudo, por
dividir conosco a lembrança da sempre viva, presente e marcante Elis Regina.
Texto maravilhoso. A colocação da figura única de Elis no cenário musical brasileiro e a presença marcante de Maria Rita foi corretíssima e linda. Muito bom mesmo. Parabéns.
ResponderExcluirO texto fala por todos nós que amamos Elis e vemos em Maria Rita a continuidade do seu magnífico trabalho. Realmente é emocionante ouvir Maria Rita, sentir sua emoção ao cantar Elis. Eu já tive o privilégio de ir a dois shows, emocionante. Sobre o texto acima, só discordo de uma palavra, onde tu falas em dividir poderíamos usar compartilhar.
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